Grupo de Leitura realiza apresentação do livro ‘Úrsula’, de Maria Firmina dos Reis

Grupo de Leitura realiza apresentação do livro ‘Úrsula’, de Maria Firmina dos Reis

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No dia 23 de outubro, sábado, às 16h, o Grupo de Leitura Sertões e Memórias realizou a apresentação do livro Úrsula, de Maria Firmina dos Reis. O evento aconteceu no formato online com transmissão pelos canais do Youtube da ONG. IPHANAQ e da Casa de Antônio Conselheiro e foi uma oportunidade ímpar de conhecer uma das primeiras obras abolicionistas da literatura brasileira, escrita pela primeira romancista negra do Brasil.

Publicado em 1859, “Úrsula” aborda temas como escravidão, racismo e desigualdade em uma narrativa que mescla tragédias familiares, resistência e críticas à sociedade escravocrata. Seu conteúdo traz uma narrativa envolvente com ingredientes típicos do romantismo do século XIX: como a idealização do amor, a exaltação da natureza e adjetivação abundante. Maria Firmina dos Reis construiu uma obra pioneira que, com personagens complexos e sensíveis, denuncia injustiças e retrata a luta pela liberdade e igualdade.

O encontro iniciou com a apresentação da obra e de alguns dados sobre a autora explanados pela coordenadora do grupo, Nayara Ribeiro. Em seguida, Suerlene e Elistênio expuseram suas percepções sobre os primeiros capítulos apresentando os personagens e o enredo do livro que trata em primeiro plano da história de amor entre Úrsula e Tancredo. O conflito da narrativa tem como centro a figura do tio de Úrsula, o Comendador Fernando P, o qual ambiciona casar-se com a sobrinha independente da vontade dela. Até aí nenhuma novidade. Entretanto, a grande inovação trazida pela autora vem da intenção de retratar a escravização dos africanos no Brasil. E fazer uma denúncia à sociedade da época sobre a necessidade de pôr fim àquela realidade. É, portanto, admirável que Reis tenha rompido com a objetificação do homem e da mulher negra na literatura desse momento, dando corpo e voz a personagens negras representadas como seres humanos: pessoas que têm nome, história e memória.

Os demais participantes apresentaram o desenvolvimento dos fatos nos capítulos restantes. Neto Camorim destaca que o fato de Maria Firmina dos Reis, ser uma mulher negra contribuiu para o reconhecimento tardio de sua importância para a literatura nacional. Esse recorte de gênero se evidencia quando sua visibilidade é comparada com a de Castro Alves, escritor contemporâneo a ela, que também manifestou seu apoio à abolição da escravatura.

Foi consenso entre os participantes durante o encontro a grata surpresa de saber que existiu no Brasil da época da escravidão uma mulher afrodescendente que foi escritora, poeta, professora, compositora, folclorista e que, além disso, ousou publicar outra história das pessoas escravizadas. Em tempos de crise democrática e de consequente retrocesso dos direitos das minorias, Maria Firmina dos Reis é ainda hoje uma vanguardista antirracista.

O grupo de leitura “Sertões e Memórias” é uma ação da ONG. IPHANAQ em parceria com a Casa de Antônio Conselheiro que uma por mês realiza estudos e apresenta livros, artigos, teses e dissertações de tema relacionados ao sertão e sua história, memória e a cultura de seus sujeitos históricos, analisando suas contribuições na construção de saberes diversos.

Por
Nayara Ribeiro
Presidente/IPHANAQ

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